Mão-de-Obra :: Fatores que afetam a produtividade
Luis Moura / 2019-07-21
Resumo
Existem vários fatores que podem influenciar a produtividade da mão-de-obra e que são muitas vezes esquecidos ou simplesmente ignorados, especialmente em alturas de recessão económica, em que as empresas, absorvem estas incertezas, de modo a conseguir a adjudicação do contrato de empreitada.
Mas mesmo que sejam ignorados, eles não deixam de existir, e podem facilmente comprometer o sucesso de um projeto que não os tenha tido em consideração, especialmente quando a mão-de-obra, representa uma das partes mais significativas do custo de uma obra.
Este post é baseado no texto do engenheiro M.Fleishman (Fleishman 2010) da American Association of Cost Engineers, em que ele recomenda que sejam considerados 4 fatores no custo da mão-de-obra:
- As condições do estaleiro de obra
- A experiência dos trabalhadores e a sua capacidade técnica
- A temperatura a que os trabalhadores vão estar sujeitos durante o horário de trabalho
- A quantidade de horas de trabalho semanal
Ajustamentos do preço da mão-de-obra
As condições do estaleiro-de-obra é uma das condicionantes à produtividade dos trabalhadores. O estaleiro-de-obra deve ser implementado de modo a que exista fácil acesso, tanto de trabalhadores como de equipamento e material. O estaleiro-de-obra deve ser funcional, permitindo o trabalho de várias equipas ao mesmo tempo. E a lista não termina aqui. Existe uma série de condicionantes associadas ao local, designe, tamanho, acesso a electricidade e água, oficinas, etc, que afectam a produtividade.
Condições do Estaleiro-de-Obra | |
---|---|
Boas | + 3% a 5% |
Médias | + 6% a 8% |
Más | + 9% a 15% |
O nível de produtividade de um trabalhador experiente e dominante das técnicas da arte, é superior à de outro trabalhador com menos experiência e que ainda não tenha dominado as técnicas.
Experiência dos trabalhadores | |
---|---|
Elevada | + 2% a 5% |
Média | + 6% a 10% |
Fraca | + 11% a 20% |
Temperatura: Para temperatura abaixo dos 5 graus ou acima dos 30 graus celsius, deve-se adicionar 1% por cada grau acima/abaixo das temperaturas de referência.
Semana de trabalho acima das 40 horas | |
---|---|
40 a 48 horas | + 5% a 10% |
49 a 50 horas | + 11% a 15% |
51 a 54 horas | + 16% a 20% |
55 a 59 horas | + 21% a 25% |
60 a 65 horas | + 26% a 30% |
66 a 72 horas | + 31% a 40% |
Exemplo
Instalação de mosaico em chão e meia altura de parede, em moradia nova na zona sul de Portugal, de fácil acesso e com bastante espaço aonde pode ser guardado equipamento e material. O trabalho dos ladrilhadores vai ser durante o Verão e a casa ainda não tem todas as janelas e portas instaladas, sendo a temperatura no interior, igual à temperatura que se faz sentir no exterior.
A equipa é composta por 2 ladrilhadores (ajudante e oficial), habituados a trabalharem em conjunto. O ladrilhador tem 5 anos de experiência e o ajudante 1 ano.
Não se prevê que seja necessário fazer horas extras durante esta fase do projeto.
Equipa: Oficial de 1ª ladrilhador + Ajudante de ladrilhador
Preço por \(m^{2}=10\) euros
Fatores que influenciam a produtividade da mão de obra
Fatores | Classificação | Ajustamento (%) |
---|---|---|
Condições do Estaleiro-de-Obra | Boas | 3 |
Experiência dos Trabalhadores | Média | 8 |
Temperatura | 34 graus | 4 |
Semana de trabalho | 40 horas | 0 |
——————————– | —————– | ——————- |
Ajustamento | - | 15 % |
O ajustamento de 15% será aplicado ao preço inicial por \(m^{2}\).
Preço final após aplicação de ajustamento
Descrição | Quantidade | Unidades |
---|---|---|
Preço por \(m^{2}\) | 10 | euro |
Ajustamento | 15 | % |
Preço Final | 11.5 | euros |
O Preço final após o ajustamento de 15%, ou 1.5 euros, é de 11.5 euros.
Conclusão
Pessoalmente, e ao contrário do que escreve M.Fleishman (Fleishman 2010), o meu preço base para mão-de-obra, já tem incluído o que será a média das condições de estaleiro de obra e experiência dos trabalhadores. O preço base deve ser calculado a partir de uma base de dados actualizada, e que tenha a informação de projetos anteriores. A base de dados serve de referência para o que são as melhores ou piores condições, que podem afectar o preço base.1
Faz mais sentido que não exista nenhuma alteração ao preço base, quando as condições do estaleiro de obra e da experiência dos trabalhadores, é um valor semelhante ao de projetos anteriores, pelos quais foi estabelecido o preço base. Essa abordagem é feita nas duas tabelas seguintes, em que proponho um diferente valor percentual para essas situações.
Condições do Estaleiro-de-Obra | M.Fleishman | Proposto |
---|---|---|
Boas | + 3% a 5% | - 1% a 5% |
Médias | + 6% a 8% | 0% |
Más | + 9% a 15% | + 0% a 15% |
Em situações em que o estaleiro-de-obra apresente melhor condições que as normais, ou que a equipa que vá exercer o trabalho, tenha um rendimento superior ao da média da empresa, será necessário um ajustamento negativo (crédito) ao preço base.
Experiência dos trabalhadores | M.Fleishman | Proposto |
---|---|---|
Elevada | + 2% a 5% | - 1% a 5% |
Média | + 6% a 10% | 0% |
Fraca | + 11% a 20% | + 1% a 20% |
Referências
Fleishman, Morris E. 2010. Skills and Knowledge of Cost Engineering. Morgantown, WV, USA: AACE International. https://web.aacei.org/.
Usando como exemplo uma equipa de ladrilhadores, que para a qual exista uma base de dados de por exemplo 10 empreitadas, é possível calcular com alguma confiança o que serão as condições normais do trabalho. A base de dados deve conter para além da informação sobre estaleiro-de-obra, a área total de trabalho, o tempo demorado a concretizar o trabalho, e quem realizou o trabalho. A partir desta informação é possível estabelecer o preço base em condições normais, que não é mais que uma média do custo por \(m^{2}\) para a instalação do mosaico. Esta média já tem incluída as condições do estaleiro-de-obra e o que será a experiência média dos trabalhadores.↩