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Custo do Risco

LuisMoura / 2018-06-18


Lisbon, Portugal, during the great earthquake of 1 November 1755. This copper engraving, made that year, shows the city in ruins and in flames. Tsunamis rush upon the shore, destroying the wharfs. The engraving is also noteworthy in showing highly disturbed water in the harbor, which sank many ships. Passengers in the left foreground show signs of panic. Original in: Museu da Cidade, Lisbon. Reproduced in: O Terramoto de 1755, Testamunhos Britanicos = The Lisbon Earthquake of 1755, British Accounts. Lisbon: British Historical Society of Portugal, 1990. --Wikipedia

Quando um orçamentista está a completar a folha de cálculo para o preço de um projeto de construção civil, existe uma parcela para o custo associado com os riscos que o projeto enfrenta. Este número, é o mais abstrato do Orçamento, pois contrariamente aos outros, tem em conta eventos que podem ou não acontecer.

O Risco

Quando aqui escrevo sobre o risco, não estou exclusivamente a falar do risco de acidente de trabalho, que possa meter em causa a segurança dos trabalhadores. Risco no contexto deste post, é todo o acontecimento fora do controle das equipas de construção do projeto, que possa meter em causa a duração, qualidade, custo e segurança da obra. Exemplos de riscos são:

  1. Tremor de Terra
  2. Fogo
  3. Instabilidade política
  4. Temperaturas acima do normal que obriguem à utilização de técnicas de forma a proteger o tempo de cura do betão
  5. Greves
  6. etc

Todos os exemplos em cima, são de riscos externos ao projeto. No entanto, o orçamentista também tentar antever os riscos internos, aqueles que acontecem dentro do projeto. Um exemplo bastante típico dos riscos internos são os “erros e omissões”. Este risco é ainda maior, quando a empresa entra em contrato público, e que por imposição legal, assume parte dos riscos de outros, ao mesmo tempo que se encontra limitada percentualmente na quantidade de “trabalhos a mais” que o projeto pode ter. A lógica por detrás disto é a de limitar a escalada de preço que um projeto pode ter, devido ao excesso de trabalhos-a-mais, mas não leva em conta que existem projetos que realmente têm bastantes trabalhos-a-mais, e que a limitação destes por via legal, simplesmente vai obrigar o empreiteiro a ignorar por exemplo reparações, que podiam ser ser facilmente feitas no decorrer da obra principal.

Regressando aos riscos internos, para além dos erros e omissões do Projeto de Execução, também existe o risco associado com os Sub-empreiteiros, Vendedores e por final, o mais importante, o risco associado com o Dono-de-Obra, pois ele tem o poder de parar e terminar o projeto. Reparar que eu aqui uso risco interno como o risco associado a eventos, que de algum modo influenciam o sucesso da empresa de construção civil. Normalmente, a literatura sobre este tópico, refere os riscos internos como eventos dentro da própria empresa de construção civil, como por exemplo baixas dos trabalhadores, dificuldades em arranjar operários especializados, etc.

Em geral, eu costumo fazer a separação do risco externo com a de risco interno, pelo relacionamento destes para com o projeto em geral, e não com a empresa de construção civil. Desta forma, o conceito é global. No entanto, para escrever sobre o trabalho do orçamentista e os riscos que o preocupam , limito-me aos riscos que afetam o sucesso da empresa. Embora muito dos riscos do projeto sejam comuns aos riscos que a empresa de construção civil enfrenta, existem riscos no projeto que lhe são únicos. Um exemplo de um risco de projeto será a qualidade da empresa de construção civil.

Análise de Risco

O processo da Análise de Risco tem várias etapas. Hoje em dia existem programas de computador que analisam os dados do projetos e os comparam com uma base de dados, atribuindo uma probabilidade de um dado evento acontecer e o impato que ele tem no projeto. No entanto, o uso deste software está limitado a grandes projetos, visto haver a necessidade de contratação de uma equipa de especialistas em análise de risco, para a introdução e análise de dados do programa.

Para projetos de menor porte, em que a contratação de especialistas e uso de software específico não faça sentido, a análise de risco deve ser feita na mesma. O processo em geral é sempre o mesmo, independentemente do tamanho da obra. Primeiro existe a identificação dos riscos, em que a melhor maneira para o fazer, é através do uso de peritos - pessoas com experiência em projetos de construção civil.

Análise de Risco

Após os riscos terem sido identificados, é necessário fazer a análise quantitativa e qualitativa dos mesmos. Para este tipo de análise, um diagrama SWOT não chega. É necessário tratar os riscos individualmente.

Exemplo de uma análise de riscos externos:

Risco # Tipo de Risco Probabilidade Impato
1 Tremor de Terra +5.0 1 9
2 Fogo 3 3
3 Inundação 4 5
4 Vandalismo 3 3

Da mesma maneira que o Eurocódigo [@EC0] admite a existência de diferentes tipos de ações a atuarem simultaneamente na estrutura, também deverá ser feito esse tipo de análise para o risco. Facilmente pode-se imaginar um tremor de terra ou um ato de vandalismo, a acontecerem ao mesmo tempo que um incêndio. É nesta parte que os programas informáticos de análise de risco são uma ajuda preciosa, pois os modelos matemáticos/estatísticos são bastante complexos. No entanto e para a maioria das obras, a análise feita individualmente para cada um dos riscos é suficiente, desde que depois seja monitorizada.

A seleção dos riscos, pode ser feita simplesmente adicionando a probabilidade com o risco. Este método não é o mais correto, pois estará a assumir que um risco de probabilidade igual a 5 e impato também de 5, é o mesmo que um risco de probabilidade 1 e impato de 10. Em ambos os casos a soma da probabilidade com o risco é 10, no entanto, os riscos são bastante diferentes. Um risco de impato 5 não mete em causa a continuidade do projeto, no entanto um risco de impato igual a 10, significa o cancelamento do projeto.

Os riscos com a classificação mais baixa, podem ser ignorados (no entanto devem ser documentados e fazerem parte do Plano de Risco)

Risco # Tipo de Risco Probabilidade Impato P+I Decisão
1 Tremor de Terra +5.0 1 9 10 Transferir
2 Fogo 3 3 6 Transferir
3 Inundação 4 5 9 Transferir
4 Vandalismo 3 3 6 Limitar

A decisão de como tratar os riscos irá determinar o custo que deverá ser transferido para o Orçamento. Existem várias opções em como lidar com o risco:

  1. Evitar, o risco pode ser evitado?
  2. Limitar, se o risco acontecer existe maneira de limitar o seu impato?
  3. Transferir, Se o risco acontecer pode ser transferido para terceiros?
  4. Aceitar, pode o risco ser aceite como parte do projeto?

No caso da tabela em cima para os 4 riscos externos, 3 dos riscos vão ser transferidos, o que significa que existe uma mitigação do impato. Uma maneira de fazer isso é através de obtenção de seguro de cubra Tremor de Terra, Fogo e Inundação. Para o risco número 4, Vandalismo, pode-se limitar a probabilidade e impato através da instalação de uma vedação em obra com um guarda permanente.

O custo do seguro, vedação e empresa de segurança, necessita agora de ser passado para o Orçamento na secção dos Lucros e Imprevistos. Logicamente que a seleção dos riscos a serem incluídos no Orçamento, é baseada na classificação geral de P+I. Nunca se pode incluir todos os riscos no Orçamento, porque; 1) Não faz sentido e 2) O Orçamento para o Projeto seria extraordinariamente alto.

Bibliografia

@misc{wikipedia:online,
title = {File:1755 Lisbon earthquake.jpg - Wikimedia Commons},
howpublished = {\url{https://commons.wikimedia.org/wiki/File:1755_Lisbon_earthquake.jpg}},
note = {(Accessed on 06/19/2018)}
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